A sala de aula, idealmente, deveria ser um santuário de aprendizado, um espaço onde o conhecimento flui e a curiosidade é estimulada. Contudo, a realidade de muitas escolas brasileiras, e de outros lugares do mundo, é marcada pela presença da indisciplina, um fator que se relaciona diretamente com o baixo aproveitamento escolar. Uma turma indisciplinada não apenas compromete o rendimento dos alunos que a compõem, mas cria um ambiente hostil que impede o desenvolvimento até mesmo dos estudantes mais dedicados e bem comportados.
Quando o professor precisa constantemente interromper a aula para conter conversas paralelas, resolver conflitos ou chamar a atenção para comportamentos inadequados, o tempo pedagógico se esvai. O ritmo da aula é quebrado, a concentração é dissipada e a oportunidade de aprofundar o conteúdo é perdida. Mesmo o aluno que busca avidamente o conhecimento é prejudicado. Imagine um estudante esforçado, tentando absorver uma explicação complexa de matemática, enquanto ao seu redor há gritos, risadas ou objetos sendo arremessados. A capacidade de focar é severamente comprometida, e o processo de construção do saber é sabotado.
É nesse contexto que a reflexão de Celso Vasconcellos, um renomado pensador da educação, se torna ainda mais pertinente: "A disciplina não é um fim em si mesma, mas uma condição para o trabalho pedagógico". Ou seja, a ordem em sala não é para controlar ou punir, mas para criar as condições necessárias para que o ensino e a aprendizagem aconteçam. Sem um mínimo de organização e respeito, a escola deixa de cumprir seu papel primordial.
Diante disso, é imperativo que o professor, linha de frente nessa batalha diária, seja veementemente apoiado pela gestão escolar. Não se trata de delegar apenas ao docente a responsabilidade de manter a ordem, mas de construir um esforço conjunto. A gestão deve fornecer os recursos, as estratégias e, acima de tudo, o respaldo necessário para que o professor possa estabelecer limites claros, aplicar consequências consistentes e, quando necessário, contar com a intervenção de outros profissionais.
Para Paulo Freire, "ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção". E como criar essas possibilidades em meio ao caos? A indisciplina em sala de aula é um entrave ao desenvolvimento pleno de todos os envolvidos. Somente com um ambiente propício, construído e mantido com o apoio irrestrito da gestão, os professores poderão exercer plenamente sua função e os alunos, sem exceção, terão a chance de alcançar seu potencial máximo de aprendizagem.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Disciplina: construção da disciplina consciente e interativa em sala de aula e na escola. 9. ed. São Paulo: Libertad, 2011.